segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Fotografia da Equipa do Projecto Interagir
Membros da equipa
(da esquerda para a direita)
Paulo Seara
(Animador Cultural)
Teresa Ramalho
(Psicóloga - Estagiária)
Marta Teixeira
(Socióloga)
Joana Rebelo
(Tec. Aconselhamento Psicossocial - Coordenadora)
Elsa Cardoso
(Socióloga)
Agradecimentos
A EQUIPA DO
PROJECTO INTERAGIR AGRADECE
A TODOS OS QUE
CONTRIBUÍRAM NA
ELABORAÇÃO
DO ESTUDO E
NO TRABALHO DE
INTERVENÇÃO
SOCIAL
BEM HAJAM !!!
Boletim Info Interagir VII Edição
Editorial
Este é o último número do Info Interagir, o sétimo. No fecho desta edição encontramo-nos cada vez mais perto da Sessão de Encerramento e Apresentação do estudo do lugar de Soutelo e da freguesia de Rio Tinto, dia 29 de Setembro, no Auditório Municipal de Gondomar pelas 9h30.
Urge fazer um balanço do que foram estes sete números do Info Interagir. Realizar trimestralmente este boletim exigiu esforço e dedicação. Foi um trabalho positivo e reconhecido pelos leitores.
Assim como o Projecto Interagir, o Info teve a sua duração temporal. No entanto os temas, nomeadamente sociais, permanecem, hoje mais esclarecidos e com propostas operacionalizáveis. De tempos a tempos o Info Interagir publicou artigos que explanavam desafios existentes nesta comunidade. E não são poucos! Rio Tinto possui uma escala urbana, no entanto o salto para esta urbanidade foi realizado muito depressa e apresenta carências sociais. Por outro lado esse mal estar é um desafio.
Desafio foi também este boletim, a quantos nele participaram um bem-haja da parte da equipa Interagir. Sabemos que este boletim termina hoje, mas felizmente os seus temas estão vivos, e com essa inquietação vislumbramos com confiança o futuro.
Quanto ao conteúdo deste último boletim, poderá ler três entrevistas que explanam três objectivos que desenvolvemos durante o Projecto, pode ler depois três artigos da autoria de Manuel Albino e José Augusto (Presidente e Vice-Presidente do Centro Social de Soutelo), Eduardo Rodrigues (ISFLUP - Instituto de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto) e de António Batista (consultor do Projecto). Por último apresentamos uma síntese das actividades realizada nos últimos meses.
O Associativismo Juvenil em Rio Tinto
Info:Quando tomou contacto com o associativismo juvenil?
José Sequeira:Desde o meu tempo de estudante. Tive a sorte de pertencer à associação de estudantes e de ser um dos fundadores de um grupo de jovens de ajuda à comunidade na minha aldeia (tempos maravilhosos).
Info: Faz parte de alguma associação ou pretende fazer parte?
JS: Actualmente sou o presidente da Associação Recreativa, Cultural e Desportiva de Miomães.
Espero num futuro próximo, fazer parte da criação da Associação Juvenil do Centro Social de Soutelo, projecto este, que irá de encontro aos muitos jovens de Rio Tinto.
Info: Quais são os planos do CATL (Centro de Actividades de Tempos Livres) no que diz respeito do associativismo juvenil e o que pensam os jovens?
JS: De momento temos o projecto da Associação Juvenil do Centro Social de Soutelo em principal destaque. Será uma forma de manter os jovens em contacto directo com o Centro após a sua saída do CATL e transmitir-lhes que podem continuar a contar com o nosso apoio.
Será uma forma de conduzi-los para a comunidade de uma forma solidária, promovendo os “bons” valores que tanta falta fazem aos jovens de hoje em dia. Apelar que apliquem as suas potencialidades para o dinamismo social e que sejam jovens atentos às necessidades da comunidade e estejam prontos para colmatar essas necessidades de uma forma estratégica e objectiva. É sem dúvida um projecto muito aliciante, e será com muita satisfação e alegria que o tentaremos concretizar. A maioria dos nossos jovens achou o projecto muito interessante e demonstraram uma enorme vontade de fazer parte dele. É sem dúvida um projecto com futuro para os jovens do Centro e para os jovens de toda a comunidade de Rio Tinto.
Info: Como professor contacta com jovens todos os dias, entre eles existem afinidades, acha que estas podem ser desenvolvidas no associativismo juvenil?
JS: Obviamente que sim, desde que sejam conduzidos de uma forma estratégica e bem definida, indo de encontro às suas necessidades e utilizando as suas potencialidades, para que de uma forma conjunta estabeleçam uma inter-ajuda necessária para trabalharem e usufruírem dessas afinidades.
Info: Quais são as principais necessidades do movimento juvenil em Rio Tinto?
JS: É sem dúvida a falta de espaços “saudáveis” direccionados para os jovens onde estes se possam encontrar, partilhar e colocar em prática os seus objectivos, quer individuais, quer colectivos. É urgente a criação destes espaços.
É necessário uma intervenção forte, precisa e apelativa com os jovens para que estes optem por um estilo de vida mais solidário e preocupado com o mundo que os rodeia. Combater o excesso de consumismo que ocupa totalmente o tempo livre dos jovens. Criar interacção com os “grupinhos” de rua e aproximá-los da comunidade. Penso que a comunidade terá que estar muito mais atenta aos nossos jovens, pois se assim não for o futuro social e o espírito de solidariedade estará em risco.
Info: A criação de espaços e associações de jovens em Rio Tinto, geridos pelos mesmos, é um factor de emancipação, mas também de risco, concorda?
JS: Antes de mais não concordo que os espaços e associações juvenis sejam totalmente geridos pelos jovens. Deverão sim ter o máximo de autonomia possível mas sempre com pontos de referência presentes. Com certeza que é um factor de risco estes espaços e associações serem totalmente geridos por jovens. Talvez daqui a alguns anos, mas ainda existe muito trabalho a fazer com os jovens e com a comunidade onde eles estão inseridos. Seria excelente que a criação destes espaços e associações fosse já uma realidade, mas vai ser uma emancipação difícil que tem de contar com todos nós enquanto comunidade preocupada com o futuro, quer dos nossos jovens, quer da nossa sociedade.
Info:Uma mensagem para os pais e jovens de Rio Tinto.
JS: Aos pais: É urgente incutir nos nossos jovens o espírito de solidariedade e de fraternidade com os seus pares e com a comunidade. Combatam o consumismo que todos os dias nos bate à porta e ocupa a “vida” dos vossos filhos. É necessário acompanhar o crescimento dos vossos filhos com a máxima transmissão de valores. Interajam com eles e partilhem ideias e opiniões. Fomentem o seu espírito crítico de forma que estes sejam capazes de opinar e construir os seus ideais.
Aos filhos: Sejam audazes e curiosos. Mostrem que têm capacidade de se organizar e de colocar em campo projectos e ideias. Olhem à vossa volta e vejam o que está errado, e o que podem fazer para corrigir. Sejam atentos e solidários. Lembrem-se que a união faz a força. Exijam a vós próprios um associativismo juvenil de qualidade.
O Grupo de Intervenção Integrada » Entrevista com as Técnicas da Junta de Freguesia de Rio Tinto, Mónica Babo e Joana Costa
Info: Como qualificam o trabalho desenvolvido em prol da criação do Grupo de Intervenção Integrada (GII)
Técnicas: O GII surgiu da necessidade dos técnicos que efectuam atendimento e acompanhamento social na freguesia de Rio Tinto, em disporem de uma forma de intervenção integrada e maior facilidade de comunicação entre si. Face a esta necessidade, e com o objectivo de evitar a recorrência constante dos utentes aos diversos serviços, para uma melhor gestão dos recursos disponíveis foi concebido o GII, cuja implementação implicará vantagens para o utente (que evita uma exposição constante da sua vida pessoal) e permitirá uma maior percepção dos técnicos sobre a situação - problema e maior eficácia da intervenção (que não se focaliza apenas num indivíduo, mas na sua família e na sua história de vida).
Com carácter inovador, e com vista a uma maior agilidade de procedimentos entre os técnicos e para uma maior protecção da vida pessoal dos utentes, todo o trabalho do GII irá ter por base uma plataforma digital (já criada e alojada no site da Junta de freguesia de Rio Tinto), onde será inserida, e estará disponível para ser partilhada toda a informação relativa a cada utente / agregado (dados pessoais, histórico, tipo de intervenções desenvolvidas e serviços envolvidos), sendo que todo o conteúdo será devidamente protegido, de forma a garatir a confidencialidade dos dados fornecidos, pelo que o acesso será possível apenas aos membros do grupo técnico, mediante a atribuição de um utilizador e password específicos.
É importante referir que todo este processo de criação do grupo deve-se ao facto de todos os técnicos partilharem da mesma necessidade e sobretudo, da receptividade e empenho dos mesmos na criação desta nova configuração de intervenção na comunidade.
Info: Até ao momento qual tem sido o impacto?
Téc: De momento, apenas podemos aferir o impacto do GII junto dos técnicos, que face a este projecto têm revelado não só uma forte adesão e receptividade, mas sobretudo, uma grande expectativa positiva face aos futuros resultados do funcionamento do GII na intervenção comunitária. Relativamente ao impacto na comunidade ainda não nos é possível tecer
quaisquer comentários, uma vez que o GII aguarda ainda autorização para tratamento de dados pessoais, por parte da Comissão Nacional de Protecção de Dados, sem a qual não se pode iniciar actividade.
Info: Que mudanças observa no trabalho sócio - comunitário na freguesia?
Téc: Conforme já foi referido ainda não nos é possível tecer considerações sobre as mudanças na comunidade, uma vez que a actividade do GII ainda se encontra limitada pela referida autorização. No entanto, começamos já a constatar uma maior articulação dos diversos serviços de intervenção comunitária, pelo facto do GII ter já permitido uma maior aproximação e conhecimento dos técnicos entre si e dos recursos existentes na freguesia de Rio Tinto. De futuro, esperamos que no âmbito dos técnicos que trabalham no terreno, haja um conhecimento cada vez maior dos recursos sociais disponíveis e maior agilidade de comunicação na intervenção, com ganhos quer para os recursos envolvidos (técnicos) quer para os utentes. Esperamos ainda que seja facilitada aos utentes a reconstrução de um projecto de vida, garantindo uma intervenção multifacetada, mais eficaz e mais adequada às especificidades de cada caso. E na sua globalidade, o GII permitirá uma maior facilidade na realização de um
diagnóstico mais apurado da realidade e das necessidades da freguesia, com vista à construção de respostas sociais concertadas.
Info: A continuidade deste grupo vai possibilitar uma melhoria significativa
do acesso da população aos serviços sociais, concordam?
Téc: Inteiramente. Conforme já pudemos referir anteriormente, o funcionamento pleno do GII irá acarretar grandes ganhos para a população desta comunidade, que encontrará cada vez mais informação, mais respostas e melhores soluções.
O Grupo de Voluntários “Intergerações” »
Entrevista Vanessa Neves e D. Amélia Lago
Entrevista com Vanessa Neves
Info: O voluntariado para si é...?
Vanessa: O voluntariado, na minha opinião, consiste em poder dar um pouco do meu tempo, da minha disponibilidade, do meu carinho, do meu esforço, ou seja, dar um pouco de mim mesma recebendo em troca algo de muito mais grandioso.
Info: Já realizou voluntariado anteriormente?
Vanessa: Sim, já realizei voluntariado em diversas campanhas do Banco Alimentar Contra a Fome (BACF) e também na Conferência de S. Vicente de Paulo, obra paroquial que presta apoio às famílias mais carenciadas da freguesia de Fânzeres.
Info: Como tomou conhecimento deste programa de voluntariado?
Vanessa: Através da Marta Teixeira (socióloga do projecto Interagir), que encontrei numa recolha de alimentos para o BACF, em Maio deste ano e que me informou sobre o projecto.
Info: Em que consiste o voluntariado que realiza?
Vanessa: O voluntariado consiste num encontro, uma vez por semana, em casa da idosa (D. Maria) prestando-lhe companhia. Na maioria das vezes saímos para uma volta a pé, tentando alhear-nos dos problemas diários, falando de coisas agradáveis e trocando experiências. Também já tivemos oportunidade de ir à praia e planeamos já próximas saí
Entrevista com D. Amélia Lago
Info:Como teve conhecimento da bolsa de voluntários?
Amélia Lago: Tive conhecimento através da Dr.ª Teresa e do Dr. Paulo, que foram a minha casa explicar em que consistia este projecto. Nesse dia falei com o filho que logo achou interessante esta iniciativa.
Info: Quando teve conhecimento deste projecto não ficou um pouco apreensiva?
AL: Nunca fiquei em momento algum desconfiada deste projecto, pois desde o início simpatizei muito com a Dr.ª Teresa e o Dr. Paulo.
Info:O que costuma fazer com a Vanessa?
AL: Normalmente passear, conversar, fazer pequenas caminhadas devido à minha saúde, visitar familiares que raramente vejo e lanchar.
Info: Está contente com esta iniciativa?
AL: Estou muito contente. Adoro a minha companhia, é um amor, muito minha amiga e muito simpática.
Info: Acha que as pessoas da sua idade ficam a ganhar com este tipo de apoio?
AL: Acho que deviam existir mais voluntários e é pena ser só uma vez por semana porque eu gosto muito.
Info: Tem divulgado este projecto a alguém? E as pessoas têm mostrado interesse?
AL: Já tenho dito a alguns vizinhos. Existe uma senhora que até gostava de ter uma companhia para passear.
Preparar o futuro!
Direcção do Centro Social de Soutelo
O Projecto Interagir aproxima-se a passos largos de um momento crucial, ou seja, de uma apresentação que não gostaríamos de reputar de final, porque efectivamente o Interagir deve sobreviver ao término do seu espaço temporal enquanto projecto.
Sustentabilidade é pois a palavra-chave neste tipo de intervenção social, e o grau do seu desenvolvimento será um bom indicador da mais valia que o projecto trouxe e trará para o seu público-alvo. Não menos importante é o facto da sua continuidade favorecer a confiança das populações neste tipo de intervenção social qualificada e que se tal não acontecer, podemos dificultar futuras intervenções ao perder a imprescindível confiança daqueles a quem devemos servir.
Relevante é também o envolvimento das instituições da sociedade civil, como é a nossa, nestas respostas sociais porque assim nos permite, enquanto tal, uma intervenção tecnicamente mais qualificada e assim um maior grau de realização, da missão com que nos comprometemos. A diferença entre as instituições como o Centro Social de Soutelo e os privados, que cada vez mais procuram satisfazer necessidades essenciais de carácter social, e que como tal nos permite sofrer uma discriminação positiva, seja ela resultante da delegação por parte do Estado de algumas competências, da filantropia das pessoas ou da consciência social efectiva de algumas empresas, está no nosso carácter democrático e principalmente por sermos um espaço onde as pessoas podem exercer a sua cidadania de uma forma efectiva e adulta. É pois fundamental que as instituições aumentem a qualidade técnica da actuação que resulta das suas opções sem cair no perigo das suas decisões serem puramente técnicas. Esta questão e as que suscitam a avaliação de desempenho (individual e/ou sistémica) são fundamentais para o desafio que o século XXI trará às instituições como o CSS. Por ultimo gostaria de em nome do CSS agradecer a todos os que desde a sua génese contribuíram e continuarão a contribuir para o sucesso do Interagir, em particular, e da intervenção social, em geral.
Manuel Albino Castro, Presidente do CSS
José Augusto, Vice-presidente do CSS
O Estudo do lugar de Soutelo e da freguesia de Rio Tinto
O Instituto de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto acompanhou a realização do estudo de diagnóstico do lugar de Soutelo, assumindo funções de acompanhamento técnico e de avaliação externa.
Durante este tempo de trabalho e de envolvimento no estudo, foi possível constatar a complexidade do território e das suas dinâmicas sociais, ao mesmo tempo que foi frequentemente assumida a necessidade de alterar a escala de análise, dando enfoque à freguesia ou mesmo ao concelho, dadas as interdependências que se verificam entre o “espaço-lugar” e o “espaço-freguesia”. Esse constante ajustamento tributa de uma já referida complexidade social e institucional, que a investigação não poderia negligenciar.
A abordagem que começou por ser iminentemente descritiva e de diagnóstico rapidamente evolui para uma correcta abordagem qualitativa e problematizadora, não descurando a constante necessidade de dialogar com as opções de desenvolvimento que historicamente se vivenciaram no lugar e na freguesia.
O lugar de Soutelo e a freguesia de Rio Tinto organizam-se a partir das tendências que marcaram o desenvolvimento peri-urbano nas duas Áreas Metropolitanas: forte crescimento demográfico, pendularidades diárias, sub-infraestruturação do território, dependência económica e laboral de uma indústria crescentemente obsoleta (penalizadora das classes trabalhadoras) e de um terciário em franca expansão (onde se distribuem as novas classes médias em expansão). Este modelo obriga a uma intervenção necessariamente planeada e articulada, que nem sempre foi tradição nos anos que se seguiram à Revolução dos Cravos.
Aliás, o modelo de desenvolvimento português, nestas três décadas que se sucederam ao 25 de Abril, foi marcado por etapas bem definidas, resultantes de opções estratégicas dos actores políticos locais e nacionais, mas também tributárias de um modelo de desenvolvimento ainda marcado pela marca infraestruturalista.
Como sustenta Juan Mozzicafreddo, essas etapas responderam às principais inquietações dos actores locais, mas igualmente a uma agenda política que foi relativamente incorporada pela opinião pública. Inicialmente vocacionadas para o investimento infraestrutural, as opções da primeira década pós-Revolução foram marcadas por um poder municipal muito dinâmico no domínio das infraestruturas básicas, o que não o impediu de coabitar mal com a gestão do território e o ordenamento e planeamento do mesmo. Só assim se pode explicar que este esforço infraestrutural tantas vezes tenha contribuído para efeitos contrários às expectativas anunciadas.
A priorização do crescimento económico e, mais tarde, a aposta no desenvolvimento e nas novas questões sociais (ambiente, lazer, desporto, cultura), constituíram as etapas posteriores que, nomeadamente na malha urbana mais concentrada, nunca conseguiram ultrapassar o domínio das infraestruturas, prejudicando claramente as instituições e as dinâmicas sociais locais.
Também neste quadro foram sendo criadas as condições (ao nível nacional e ao nível local) para esforços infraestruturais muito duais no território. Nesse dualismo construiu-se uma malha urbana pujante no litoral e crescentemente dispersa no interior do país. A concentração populacional, tão rápida quanto descurada, polarizou nas duas Áreas Metropolitanas, quer os mais positivos indicadores de desenvolvimento, quer as mais avessas tendências sociais.
Vêem-se os agentes públicos e os cidadãos, assim, a braços com um conjunto de problemáticas novas, para as quais só novas respostas podem ser virtuosas.
É neste quadro que se justifica todo o estímulo e investimento em instrumentos de desenvolvimento local que se organizem a partir de instituições organizadas da sociedade. Na verdade, este estudo traduz-se num efectivo contributo ao debate sobre modelos de desenvolvimento e ao alargamento das áreas de debate e de participação cidadã, sendo tão mais relevante quanto mais intenso e duradouro possa ser esse debate. Nesse sentido, apesar de “terminado”, este estudo mantém vigorosa a sua dinâmica e mantém actuais os seus contributos.
O estudo promove uma abordagem interdisciplinar e tecnicamente consistente sobre as características do território e do tecido social, ao mesmo tempo que assume a necessidade de conhecer e problematizar o modelo de organização institucional. Nesta dupla dimensão estão contidos os mais fortes instrumentos de mudança social.
Mas o estudo é também, por si só, um elemento de reforço da participação e da democracia local. Ao emergir de uma instituição organizada e com trabalho de terreno, o estudo prova que há muito capital de debate e de participação, tantas vezes desaproveitado, na estrutura social, para além das tradicionais instituições formais detentoras do (quase) monopólio de debate e de decisão.
Neste sentido, o estudo corporiza, finalmente, um desafio, lançado a toda a organização social local e às suas estruturas institucionais. O desafio de contribuir como efectivo instrumento de desenvolvimento, de ser maturado e debatido pela comunidade, já que é esse o propósito dos contributos que visam o reforço da participação, da cidadania e do desenvolvimento sustentável.
De facto, o estudo não se encerra com o relatório final. Ele torna-se elemento de reflexão, ao mesmo tempo que exige uma ampliação das suas virtualidades e uma aposta concreta na continuidade dos seus principais pressupostos. É dessas dinâmicas (e não de alegados produtos finais) que se faz o desenvolvimento local e a sustentabilidade.
Eduardo Rodrigues
ISFLUP
Gestão nas Ipss
De entre os desafios ao financiamento e sobrevivência financeira das IPSS’ no actual quadro jurídico certamente o maior será o destas organizações se repensarem enquanto prestadoras de serviços ao Estado e à comunidade.
Esgotados os mitos fundadores e o seu discurso de auto legitimação baseado na representação das necessidades e interesses das comunidades onde se inserem, as IPSS procuram o seu lugar e identidade no mercado de serviços sociais que entretanto se impôs.
As IPSS tendem a ocupar um nicho de intervenção decorrente da transformação do apoio social em intervenção para o desenvolvimento nos territórios, nas pessoas e nas comunidades. Estes sectores emergiram fruto do trabalho das próprias IPSS mas também das novas necessidades sociais e políticas.
Neste campo a capacidade de gestão dos recursos e oportunidades será certamente o ponto de viragem para um posicionamento de serviço de qualidade, com a especificidade de ocuparem um nicho cultural e organizacional próprio.
As IPSS têm que funcionar empresarialmente com elevados níveis de qualidade e preços competitivos e simultaneamente funcionar como espaço e colectivo de expressão de interesses e necessidades colectivas verdadeiramente abertos e disponíveis para a comunidade e reconhecida por ela como um seu centro de recursos.
O funcionamento empresarial exige profissionalismo e este é o ponto fraco destas organizações por não estabelecerem e articularem no seu modelo de gestão a diferença entre voluntarismo (e voluntariado) e gestão profissional. Estes dois campos completam-se enquanto valor interno da organização e só na sua articulação se tornam uma real mais valia da instituição na mudança social. A este nível o panorama actual na generalidade das IPSS é altamente preocupante pela confusão entre direcção e gestão, resultando no atropelo dos níveis hierárquicos definidos resultando sobretudo na desvalorização da direcção técnica, subestimando competências internas disponíveis para o efeito e gerando desmotivação nos quadros e funcionários que são afinal o principal activo destas organizações.
O efeito global deste sistema de decisão é um quadro de centralização e personalização da decisão que se legitima numa suposta autoridade da direcção para colmatar a falta de autoridade técnica que não tem ou não deve ter. Deste modelo resultam défices na delegação de competências ao nível funcional, mas sobretudo a deriva institucional pela falta de um planeamento estratégico crucial para a sobrevivência das IPSS no mercado onde vão ter que competir.
A reinvenção de um modelo de gestão profissionalizado mas enquadrado em valores e princípios organizacionais que os voluntários das direcções auditam internamente é a necessidade mais premente das organizações do chamado terceiro sector.
As mudanças a que estamos a assistir da retracção do modelo do estado social que conhecemos dos anos 60 e 70 na Europa, e que está moribundo são a grande oportunidade para as organizações sem fins lucrativos para ocuparem o centro do estado social de IV geração de que urgentemente necessitamos. Para isso têm que assumir um papel de inovação e desenvolvimento que as afaste da imagem de organizações onde reina o improviso, a irresponsabilidade, o protagonismo exacerbado e a dependência lamurienta e queixosa da auto vitimação perante o estado – que não cumpre, que não dá, que se demite…
António Batista
Consultor do Projecto Interagir
Acções Realizadas Maio - Setembro
1_ Campanha Banco Alimentar » 5 & 6 de Maio
A 5 e 6 de Maio realizamos a segunda campanha de recolha de alimentos para o
Banco Alimentar. Nesta iniciativa apesar da menor adesão de voluntários registou-se uma recolha de alimentos próxima da campanha de Novembro de 2006.
Como é habitual, contamos com a colaboração da comunidade em futuras edições da campanha do Banco Alimentar Contra a Fome.
2_ Bolsa de Voluntários » Março
A campanha para o voluntariado com idosos em Rio Tinto iniciada em Março resultou na sensibilização de mais de duas dezenas de indivíduos graças ao esforço conjunto com os enfermeiros do Centro de Saúde de Rio Tinto, foi possível sensibilizar dois idosos para aderirem à iniciativa. Entretanto foram realizadas com os voluntários sessões de formação e preparação.
Recentemente e com o voluntários no terreno, realizamos a 6 de Julho um encontro de todo o grupo com o objectivo de envolver voluntários e idosos.
3_ Encontro Modelo de Gestão para IPSS » 6 de Junho
No dia 6 de Junho a equipa do Projecto Interagir fomentou um encontro na Junta de Freguesia de Rio Tinto com as IPSS da freguesia com o objectivo de analisar a situação actual e apontar ideias a desenvolver no futuro. Estiveram presentes cerca de 15 participantes. O encontro foi orientado pelo consultor do Projecto Interagir, António Batista.
4_ Ser Jovem é… Associativismo Juvenil e Hip Hop » 9 de Junho
Sendo um dos objectivos do Projecto Interagir, bem como do Centro Social de Soutelo, a divulgação e promoção do associativismo juvenil como meio de formar a cidadania dos mais novos, realizamos no passado dia 9 de Junho a iniciativa Ser Jovem é… Associativismo Juvenil e Hip Hop. A iniciativa teve a presença de mais de 50 participantes. Principiou com um painel de convidados (Federação das Associações Juvenis do Distrito do Porto, Artur; Instituto Português da Juventude, Diva Freitas; António Pinto, Junta de Freguesia de Campanha; Catarina Alves, dirigente juvenil). Posteriormente realizou-se uma performance musical com Evan Dark e um espectáculo de dança Hip Hop com os So Kool da C.A.O.S. .
5_ Encontro Reflexão sobre a Avaliação de Desempenho » 11 de Julho
O Projecto Interagir promoveu no dia 11 de Julho no Centro Social de Soutelo um encontro com trabalhadores para debater as vantagens e desvantagens da avaliação de desempenho bem como iniciar o debate interno. O encontro foi dinamizado pelo consultor do Projecto António Batista, tendo sido a sessão bastante participada.
Este é o último número do Info Interagir, o sétimo. No fecho desta edição encontramo-nos cada vez mais perto da Sessão de Encerramento e Apresentação do estudo do lugar de Soutelo e da freguesia de Rio Tinto, dia 29 de Setembro, no Auditório Municipal de Gondomar pelas 9h30.
Urge fazer um balanço do que foram estes sete números do Info Interagir. Realizar trimestralmente este boletim exigiu esforço e dedicação. Foi um trabalho positivo e reconhecido pelos leitores.
Assim como o Projecto Interagir, o Info teve a sua duração temporal. No entanto os temas, nomeadamente sociais, permanecem, hoje mais esclarecidos e com propostas operacionalizáveis. De tempos a tempos o Info Interagir publicou artigos que explanavam desafios existentes nesta comunidade. E não são poucos! Rio Tinto possui uma escala urbana, no entanto o salto para esta urbanidade foi realizado muito depressa e apresenta carências sociais. Por outro lado esse mal estar é um desafio.
Desafio foi também este boletim, a quantos nele participaram um bem-haja da parte da equipa Interagir. Sabemos que este boletim termina hoje, mas felizmente os seus temas estão vivos, e com essa inquietação vislumbramos com confiança o futuro.
Quanto ao conteúdo deste último boletim, poderá ler três entrevistas que explanam três objectivos que desenvolvemos durante o Projecto, pode ler depois três artigos da autoria de Manuel Albino e José Augusto (Presidente e Vice-Presidente do Centro Social de Soutelo), Eduardo Rodrigues (ISFLUP - Instituto de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto) e de António Batista (consultor do Projecto). Por último apresentamos uma síntese das actividades realizada nos últimos meses.
O Associativismo Juvenil em Rio Tinto
Info:Quando tomou contacto com o associativismo juvenil?
José Sequeira:Desde o meu tempo de estudante. Tive a sorte de pertencer à associação de estudantes e de ser um dos fundadores de um grupo de jovens de ajuda à comunidade na minha aldeia (tempos maravilhosos).
Info: Faz parte de alguma associação ou pretende fazer parte?
JS: Actualmente sou o presidente da Associação Recreativa, Cultural e Desportiva de Miomães.
Espero num futuro próximo, fazer parte da criação da Associação Juvenil do Centro Social de Soutelo, projecto este, que irá de encontro aos muitos jovens de Rio Tinto.
Info: Quais são os planos do CATL (Centro de Actividades de Tempos Livres) no que diz respeito do associativismo juvenil e o que pensam os jovens?
JS: De momento temos o projecto da Associação Juvenil do Centro Social de Soutelo em principal destaque. Será uma forma de manter os jovens em contacto directo com o Centro após a sua saída do CATL e transmitir-lhes que podem continuar a contar com o nosso apoio.
Será uma forma de conduzi-los para a comunidade de uma forma solidária, promovendo os “bons” valores que tanta falta fazem aos jovens de hoje em dia. Apelar que apliquem as suas potencialidades para o dinamismo social e que sejam jovens atentos às necessidades da comunidade e estejam prontos para colmatar essas necessidades de uma forma estratégica e objectiva. É sem dúvida um projecto muito aliciante, e será com muita satisfação e alegria que o tentaremos concretizar. A maioria dos nossos jovens achou o projecto muito interessante e demonstraram uma enorme vontade de fazer parte dele. É sem dúvida um projecto com futuro para os jovens do Centro e para os jovens de toda a comunidade de Rio Tinto.
Info: Como professor contacta com jovens todos os dias, entre eles existem afinidades, acha que estas podem ser desenvolvidas no associativismo juvenil?
JS: Obviamente que sim, desde que sejam conduzidos de uma forma estratégica e bem definida, indo de encontro às suas necessidades e utilizando as suas potencialidades, para que de uma forma conjunta estabeleçam uma inter-ajuda necessária para trabalharem e usufruírem dessas afinidades.
Info: Quais são as principais necessidades do movimento juvenil em Rio Tinto?
JS: É sem dúvida a falta de espaços “saudáveis” direccionados para os jovens onde estes se possam encontrar, partilhar e colocar em prática os seus objectivos, quer individuais, quer colectivos. É urgente a criação destes espaços.
É necessário uma intervenção forte, precisa e apelativa com os jovens para que estes optem por um estilo de vida mais solidário e preocupado com o mundo que os rodeia. Combater o excesso de consumismo que ocupa totalmente o tempo livre dos jovens. Criar interacção com os “grupinhos” de rua e aproximá-los da comunidade. Penso que a comunidade terá que estar muito mais atenta aos nossos jovens, pois se assim não for o futuro social e o espírito de solidariedade estará em risco.
Info: A criação de espaços e associações de jovens em Rio Tinto, geridos pelos mesmos, é um factor de emancipação, mas também de risco, concorda?
JS: Antes de mais não concordo que os espaços e associações juvenis sejam totalmente geridos pelos jovens. Deverão sim ter o máximo de autonomia possível mas sempre com pontos de referência presentes. Com certeza que é um factor de risco estes espaços e associações serem totalmente geridos por jovens. Talvez daqui a alguns anos, mas ainda existe muito trabalho a fazer com os jovens e com a comunidade onde eles estão inseridos. Seria excelente que a criação destes espaços e associações fosse já uma realidade, mas vai ser uma emancipação difícil que tem de contar com todos nós enquanto comunidade preocupada com o futuro, quer dos nossos jovens, quer da nossa sociedade.
Info:Uma mensagem para os pais e jovens de Rio Tinto.
JS: Aos pais: É urgente incutir nos nossos jovens o espírito de solidariedade e de fraternidade com os seus pares e com a comunidade. Combatam o consumismo que todos os dias nos bate à porta e ocupa a “vida” dos vossos filhos. É necessário acompanhar o crescimento dos vossos filhos com a máxima transmissão de valores. Interajam com eles e partilhem ideias e opiniões. Fomentem o seu espírito crítico de forma que estes sejam capazes de opinar e construir os seus ideais.
Aos filhos: Sejam audazes e curiosos. Mostrem que têm capacidade de se organizar e de colocar em campo projectos e ideias. Olhem à vossa volta e vejam o que está errado, e o que podem fazer para corrigir. Sejam atentos e solidários. Lembrem-se que a união faz a força. Exijam a vós próprios um associativismo juvenil de qualidade.
O Grupo de Intervenção Integrada » Entrevista com as Técnicas da Junta de Freguesia de Rio Tinto, Mónica Babo e Joana Costa
Info: Como qualificam o trabalho desenvolvido em prol da criação do Grupo de Intervenção Integrada (GII)
Técnicas: O GII surgiu da necessidade dos técnicos que efectuam atendimento e acompanhamento social na freguesia de Rio Tinto, em disporem de uma forma de intervenção integrada e maior facilidade de comunicação entre si. Face a esta necessidade, e com o objectivo de evitar a recorrência constante dos utentes aos diversos serviços, para uma melhor gestão dos recursos disponíveis foi concebido o GII, cuja implementação implicará vantagens para o utente (que evita uma exposição constante da sua vida pessoal) e permitirá uma maior percepção dos técnicos sobre a situação - problema e maior eficácia da intervenção (que não se focaliza apenas num indivíduo, mas na sua família e na sua história de vida).
Com carácter inovador, e com vista a uma maior agilidade de procedimentos entre os técnicos e para uma maior protecção da vida pessoal dos utentes, todo o trabalho do GII irá ter por base uma plataforma digital (já criada e alojada no site da Junta de freguesia de Rio Tinto), onde será inserida, e estará disponível para ser partilhada toda a informação relativa a cada utente / agregado (dados pessoais, histórico, tipo de intervenções desenvolvidas e serviços envolvidos), sendo que todo o conteúdo será devidamente protegido, de forma a garatir a confidencialidade dos dados fornecidos, pelo que o acesso será possível apenas aos membros do grupo técnico, mediante a atribuição de um utilizador e password específicos.
É importante referir que todo este processo de criação do grupo deve-se ao facto de todos os técnicos partilharem da mesma necessidade e sobretudo, da receptividade e empenho dos mesmos na criação desta nova configuração de intervenção na comunidade.
Info: Até ao momento qual tem sido o impacto?
Téc: De momento, apenas podemos aferir o impacto do GII junto dos técnicos, que face a este projecto têm revelado não só uma forte adesão e receptividade, mas sobretudo, uma grande expectativa positiva face aos futuros resultados do funcionamento do GII na intervenção comunitária. Relativamente ao impacto na comunidade ainda não nos é possível tecer
quaisquer comentários, uma vez que o GII aguarda ainda autorização para tratamento de dados pessoais, por parte da Comissão Nacional de Protecção de Dados, sem a qual não se pode iniciar actividade.
Info: Que mudanças observa no trabalho sócio - comunitário na freguesia?
Téc: Conforme já foi referido ainda não nos é possível tecer considerações sobre as mudanças na comunidade, uma vez que a actividade do GII ainda se encontra limitada pela referida autorização. No entanto, começamos já a constatar uma maior articulação dos diversos serviços de intervenção comunitária, pelo facto do GII ter já permitido uma maior aproximação e conhecimento dos técnicos entre si e dos recursos existentes na freguesia de Rio Tinto. De futuro, esperamos que no âmbito dos técnicos que trabalham no terreno, haja um conhecimento cada vez maior dos recursos sociais disponíveis e maior agilidade de comunicação na intervenção, com ganhos quer para os recursos envolvidos (técnicos) quer para os utentes. Esperamos ainda que seja facilitada aos utentes a reconstrução de um projecto de vida, garantindo uma intervenção multifacetada, mais eficaz e mais adequada às especificidades de cada caso. E na sua globalidade, o GII permitirá uma maior facilidade na realização de um
diagnóstico mais apurado da realidade e das necessidades da freguesia, com vista à construção de respostas sociais concertadas.
Info: A continuidade deste grupo vai possibilitar uma melhoria significativa
do acesso da população aos serviços sociais, concordam?
Téc: Inteiramente. Conforme já pudemos referir anteriormente, o funcionamento pleno do GII irá acarretar grandes ganhos para a população desta comunidade, que encontrará cada vez mais informação, mais respostas e melhores soluções.
O Grupo de Voluntários “Intergerações” »
Entrevista Vanessa Neves e D. Amélia Lago
Entrevista com Vanessa Neves
Info: O voluntariado para si é...?
Vanessa: O voluntariado, na minha opinião, consiste em poder dar um pouco do meu tempo, da minha disponibilidade, do meu carinho, do meu esforço, ou seja, dar um pouco de mim mesma recebendo em troca algo de muito mais grandioso.
Info: Já realizou voluntariado anteriormente?
Vanessa: Sim, já realizei voluntariado em diversas campanhas do Banco Alimentar Contra a Fome (BACF) e também na Conferência de S. Vicente de Paulo, obra paroquial que presta apoio às famílias mais carenciadas da freguesia de Fânzeres.
Info: Como tomou conhecimento deste programa de voluntariado?
Vanessa: Através da Marta Teixeira (socióloga do projecto Interagir), que encontrei numa recolha de alimentos para o BACF, em Maio deste ano e que me informou sobre o projecto.
Info: Em que consiste o voluntariado que realiza?
Vanessa: O voluntariado consiste num encontro, uma vez por semana, em casa da idosa (D. Maria) prestando-lhe companhia. Na maioria das vezes saímos para uma volta a pé, tentando alhear-nos dos problemas diários, falando de coisas agradáveis e trocando experiências. Também já tivemos oportunidade de ir à praia e planeamos já próximas saí
Entrevista com D. Amélia Lago
Info:Como teve conhecimento da bolsa de voluntários?
Amélia Lago: Tive conhecimento através da Dr.ª Teresa e do Dr. Paulo, que foram a minha casa explicar em que consistia este projecto. Nesse dia falei com o filho que logo achou interessante esta iniciativa.
Info: Quando teve conhecimento deste projecto não ficou um pouco apreensiva?
AL: Nunca fiquei em momento algum desconfiada deste projecto, pois desde o início simpatizei muito com a Dr.ª Teresa e o Dr. Paulo.
Info:O que costuma fazer com a Vanessa?
AL: Normalmente passear, conversar, fazer pequenas caminhadas devido à minha saúde, visitar familiares que raramente vejo e lanchar.
Info: Está contente com esta iniciativa?
AL: Estou muito contente. Adoro a minha companhia, é um amor, muito minha amiga e muito simpática.
Info: Acha que as pessoas da sua idade ficam a ganhar com este tipo de apoio?
AL: Acho que deviam existir mais voluntários e é pena ser só uma vez por semana porque eu gosto muito.
Info: Tem divulgado este projecto a alguém? E as pessoas têm mostrado interesse?
AL: Já tenho dito a alguns vizinhos. Existe uma senhora que até gostava de ter uma companhia para passear.
Preparar o futuro!
Direcção do Centro Social de Soutelo
O Projecto Interagir aproxima-se a passos largos de um momento crucial, ou seja, de uma apresentação que não gostaríamos de reputar de final, porque efectivamente o Interagir deve sobreviver ao término do seu espaço temporal enquanto projecto.
Sustentabilidade é pois a palavra-chave neste tipo de intervenção social, e o grau do seu desenvolvimento será um bom indicador da mais valia que o projecto trouxe e trará para o seu público-alvo. Não menos importante é o facto da sua continuidade favorecer a confiança das populações neste tipo de intervenção social qualificada e que se tal não acontecer, podemos dificultar futuras intervenções ao perder a imprescindível confiança daqueles a quem devemos servir.
Relevante é também o envolvimento das instituições da sociedade civil, como é a nossa, nestas respostas sociais porque assim nos permite, enquanto tal, uma intervenção tecnicamente mais qualificada e assim um maior grau de realização, da missão com que nos comprometemos. A diferença entre as instituições como o Centro Social de Soutelo e os privados, que cada vez mais procuram satisfazer necessidades essenciais de carácter social, e que como tal nos permite sofrer uma discriminação positiva, seja ela resultante da delegação por parte do Estado de algumas competências, da filantropia das pessoas ou da consciência social efectiva de algumas empresas, está no nosso carácter democrático e principalmente por sermos um espaço onde as pessoas podem exercer a sua cidadania de uma forma efectiva e adulta. É pois fundamental que as instituições aumentem a qualidade técnica da actuação que resulta das suas opções sem cair no perigo das suas decisões serem puramente técnicas. Esta questão e as que suscitam a avaliação de desempenho (individual e/ou sistémica) são fundamentais para o desafio que o século XXI trará às instituições como o CSS. Por ultimo gostaria de em nome do CSS agradecer a todos os que desde a sua génese contribuíram e continuarão a contribuir para o sucesso do Interagir, em particular, e da intervenção social, em geral.
Manuel Albino Castro, Presidente do CSS
José Augusto, Vice-presidente do CSS
O Estudo do lugar de Soutelo e da freguesia de Rio Tinto
O Instituto de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto acompanhou a realização do estudo de diagnóstico do lugar de Soutelo, assumindo funções de acompanhamento técnico e de avaliação externa.
Durante este tempo de trabalho e de envolvimento no estudo, foi possível constatar a complexidade do território e das suas dinâmicas sociais, ao mesmo tempo que foi frequentemente assumida a necessidade de alterar a escala de análise, dando enfoque à freguesia ou mesmo ao concelho, dadas as interdependências que se verificam entre o “espaço-lugar” e o “espaço-freguesia”. Esse constante ajustamento tributa de uma já referida complexidade social e institucional, que a investigação não poderia negligenciar.
A abordagem que começou por ser iminentemente descritiva e de diagnóstico rapidamente evolui para uma correcta abordagem qualitativa e problematizadora, não descurando a constante necessidade de dialogar com as opções de desenvolvimento que historicamente se vivenciaram no lugar e na freguesia.
O lugar de Soutelo e a freguesia de Rio Tinto organizam-se a partir das tendências que marcaram o desenvolvimento peri-urbano nas duas Áreas Metropolitanas: forte crescimento demográfico, pendularidades diárias, sub-infraestruturação do território, dependência económica e laboral de uma indústria crescentemente obsoleta (penalizadora das classes trabalhadoras) e de um terciário em franca expansão (onde se distribuem as novas classes médias em expansão). Este modelo obriga a uma intervenção necessariamente planeada e articulada, que nem sempre foi tradição nos anos que se seguiram à Revolução dos Cravos.
Aliás, o modelo de desenvolvimento português, nestas três décadas que se sucederam ao 25 de Abril, foi marcado por etapas bem definidas, resultantes de opções estratégicas dos actores políticos locais e nacionais, mas também tributárias de um modelo de desenvolvimento ainda marcado pela marca infraestruturalista.
Como sustenta Juan Mozzicafreddo, essas etapas responderam às principais inquietações dos actores locais, mas igualmente a uma agenda política que foi relativamente incorporada pela opinião pública. Inicialmente vocacionadas para o investimento infraestrutural, as opções da primeira década pós-Revolução foram marcadas por um poder municipal muito dinâmico no domínio das infraestruturas básicas, o que não o impediu de coabitar mal com a gestão do território e o ordenamento e planeamento do mesmo. Só assim se pode explicar que este esforço infraestrutural tantas vezes tenha contribuído para efeitos contrários às expectativas anunciadas.
A priorização do crescimento económico e, mais tarde, a aposta no desenvolvimento e nas novas questões sociais (ambiente, lazer, desporto, cultura), constituíram as etapas posteriores que, nomeadamente na malha urbana mais concentrada, nunca conseguiram ultrapassar o domínio das infraestruturas, prejudicando claramente as instituições e as dinâmicas sociais locais.
Também neste quadro foram sendo criadas as condições (ao nível nacional e ao nível local) para esforços infraestruturais muito duais no território. Nesse dualismo construiu-se uma malha urbana pujante no litoral e crescentemente dispersa no interior do país. A concentração populacional, tão rápida quanto descurada, polarizou nas duas Áreas Metropolitanas, quer os mais positivos indicadores de desenvolvimento, quer as mais avessas tendências sociais.
Vêem-se os agentes públicos e os cidadãos, assim, a braços com um conjunto de problemáticas novas, para as quais só novas respostas podem ser virtuosas.
É neste quadro que se justifica todo o estímulo e investimento em instrumentos de desenvolvimento local que se organizem a partir de instituições organizadas da sociedade. Na verdade, este estudo traduz-se num efectivo contributo ao debate sobre modelos de desenvolvimento e ao alargamento das áreas de debate e de participação cidadã, sendo tão mais relevante quanto mais intenso e duradouro possa ser esse debate. Nesse sentido, apesar de “terminado”, este estudo mantém vigorosa a sua dinâmica e mantém actuais os seus contributos.
O estudo promove uma abordagem interdisciplinar e tecnicamente consistente sobre as características do território e do tecido social, ao mesmo tempo que assume a necessidade de conhecer e problematizar o modelo de organização institucional. Nesta dupla dimensão estão contidos os mais fortes instrumentos de mudança social.
Mas o estudo é também, por si só, um elemento de reforço da participação e da democracia local. Ao emergir de uma instituição organizada e com trabalho de terreno, o estudo prova que há muito capital de debate e de participação, tantas vezes desaproveitado, na estrutura social, para além das tradicionais instituições formais detentoras do (quase) monopólio de debate e de decisão.
Neste sentido, o estudo corporiza, finalmente, um desafio, lançado a toda a organização social local e às suas estruturas institucionais. O desafio de contribuir como efectivo instrumento de desenvolvimento, de ser maturado e debatido pela comunidade, já que é esse o propósito dos contributos que visam o reforço da participação, da cidadania e do desenvolvimento sustentável.
De facto, o estudo não se encerra com o relatório final. Ele torna-se elemento de reflexão, ao mesmo tempo que exige uma ampliação das suas virtualidades e uma aposta concreta na continuidade dos seus principais pressupostos. É dessas dinâmicas (e não de alegados produtos finais) que se faz o desenvolvimento local e a sustentabilidade.
Eduardo Rodrigues
ISFLUP
Gestão nas Ipss
De entre os desafios ao financiamento e sobrevivência financeira das IPSS’ no actual quadro jurídico certamente o maior será o destas organizações se repensarem enquanto prestadoras de serviços ao Estado e à comunidade.
Esgotados os mitos fundadores e o seu discurso de auto legitimação baseado na representação das necessidades e interesses das comunidades onde se inserem, as IPSS procuram o seu lugar e identidade no mercado de serviços sociais que entretanto se impôs.
As IPSS tendem a ocupar um nicho de intervenção decorrente da transformação do apoio social em intervenção para o desenvolvimento nos territórios, nas pessoas e nas comunidades. Estes sectores emergiram fruto do trabalho das próprias IPSS mas também das novas necessidades sociais e políticas.
Neste campo a capacidade de gestão dos recursos e oportunidades será certamente o ponto de viragem para um posicionamento de serviço de qualidade, com a especificidade de ocuparem um nicho cultural e organizacional próprio.
As IPSS têm que funcionar empresarialmente com elevados níveis de qualidade e preços competitivos e simultaneamente funcionar como espaço e colectivo de expressão de interesses e necessidades colectivas verdadeiramente abertos e disponíveis para a comunidade e reconhecida por ela como um seu centro de recursos.
O funcionamento empresarial exige profissionalismo e este é o ponto fraco destas organizações por não estabelecerem e articularem no seu modelo de gestão a diferença entre voluntarismo (e voluntariado) e gestão profissional. Estes dois campos completam-se enquanto valor interno da organização e só na sua articulação se tornam uma real mais valia da instituição na mudança social. A este nível o panorama actual na generalidade das IPSS é altamente preocupante pela confusão entre direcção e gestão, resultando no atropelo dos níveis hierárquicos definidos resultando sobretudo na desvalorização da direcção técnica, subestimando competências internas disponíveis para o efeito e gerando desmotivação nos quadros e funcionários que são afinal o principal activo destas organizações.
O efeito global deste sistema de decisão é um quadro de centralização e personalização da decisão que se legitima numa suposta autoridade da direcção para colmatar a falta de autoridade técnica que não tem ou não deve ter. Deste modelo resultam défices na delegação de competências ao nível funcional, mas sobretudo a deriva institucional pela falta de um planeamento estratégico crucial para a sobrevivência das IPSS no mercado onde vão ter que competir.
A reinvenção de um modelo de gestão profissionalizado mas enquadrado em valores e princípios organizacionais que os voluntários das direcções auditam internamente é a necessidade mais premente das organizações do chamado terceiro sector.
As mudanças a que estamos a assistir da retracção do modelo do estado social que conhecemos dos anos 60 e 70 na Europa, e que está moribundo são a grande oportunidade para as organizações sem fins lucrativos para ocuparem o centro do estado social de IV geração de que urgentemente necessitamos. Para isso têm que assumir um papel de inovação e desenvolvimento que as afaste da imagem de organizações onde reina o improviso, a irresponsabilidade, o protagonismo exacerbado e a dependência lamurienta e queixosa da auto vitimação perante o estado – que não cumpre, que não dá, que se demite…
António Batista
Consultor do Projecto Interagir
Acções Realizadas Maio - Setembro
1_ Campanha Banco Alimentar » 5 & 6 de Maio
A 5 e 6 de Maio realizamos a segunda campanha de recolha de alimentos para o
Banco Alimentar. Nesta iniciativa apesar da menor adesão de voluntários registou-se uma recolha de alimentos próxima da campanha de Novembro de 2006.
Como é habitual, contamos com a colaboração da comunidade em futuras edições da campanha do Banco Alimentar Contra a Fome.
2_ Bolsa de Voluntários » Março
A campanha para o voluntariado com idosos em Rio Tinto iniciada em Março resultou na sensibilização de mais de duas dezenas de indivíduos graças ao esforço conjunto com os enfermeiros do Centro de Saúde de Rio Tinto, foi possível sensibilizar dois idosos para aderirem à iniciativa. Entretanto foram realizadas com os voluntários sessões de formação e preparação.
Recentemente e com o voluntários no terreno, realizamos a 6 de Julho um encontro de todo o grupo com o objectivo de envolver voluntários e idosos.
3_ Encontro Modelo de Gestão para IPSS » 6 de Junho
No dia 6 de Junho a equipa do Projecto Interagir fomentou um encontro na Junta de Freguesia de Rio Tinto com as IPSS da freguesia com o objectivo de analisar a situação actual e apontar ideias a desenvolver no futuro. Estiveram presentes cerca de 15 participantes. O encontro foi orientado pelo consultor do Projecto Interagir, António Batista.
4_ Ser Jovem é… Associativismo Juvenil e Hip Hop » 9 de Junho
Sendo um dos objectivos do Projecto Interagir, bem como do Centro Social de Soutelo, a divulgação e promoção do associativismo juvenil como meio de formar a cidadania dos mais novos, realizamos no passado dia 9 de Junho a iniciativa Ser Jovem é… Associativismo Juvenil e Hip Hop. A iniciativa teve a presença de mais de 50 participantes. Principiou com um painel de convidados (Federação das Associações Juvenis do Distrito do Porto, Artur; Instituto Português da Juventude, Diva Freitas; António Pinto, Junta de Freguesia de Campanha; Catarina Alves, dirigente juvenil). Posteriormente realizou-se uma performance musical com Evan Dark e um espectáculo de dança Hip Hop com os So Kool da C.A.O.S. .
5_ Encontro Reflexão sobre a Avaliação de Desempenho » 11 de Julho
O Projecto Interagir promoveu no dia 11 de Julho no Centro Social de Soutelo um encontro com trabalhadores para debater as vantagens e desvantagens da avaliação de desempenho bem como iniciar o debate interno. O encontro foi dinamizado pelo consultor do Projecto António Batista, tendo sido a sessão bastante participada.
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